Confiar é preciso

Texto veiculado no jornal O Estado de São Paulo dia 28/05/2016

Resgate de confiança! Sem sombra de dúvida, essa é a frase que mais se tem ouvido de todos os brasileiros. E essa confiança não é somente no que diz respeito ao crescimento econômico. O País precisa, obviamente, resgatar sua confiança nas pessoas e nas instituições. Somos, diariamente, tão bombardeados por informações acerca de delações, desvios de verba, contas no exterior, caixa 2, que nem sabemos mais quantos - seja do Governo ou do empresariado - estão efetivamente envolvidos em operações ilícitas. A impressão que se tem é que há sempre uma caixa preta dentro de outra, pronta para desvendar segredos ainda piores! Por isso, precisamos urgentemente desse resgate. Temos que acreditar que o cenário pode sim melhorar! E, felizmente, uma enorme parcela de brasileiros ainda enxerga no trabalho sua fonte de renda, ainda levanta cedo, leva os filhos à escola, cede lugar aos mais velhos na condução, ergue a bandeira nacional como símbolo de dias melhores! Independentemente de tendências políticas, e falando especificamente do nosso mercado, tenho certeza de que os corretores de imóveis fazem parte dessa camada especial da sociedade, que está disposta a arregaçar as mangas e tomar as rédeas dos seus negócios. Temos uma nação de possibilidades e se juntarmos nossa criatividade com o espírito empreendedor, a chance de superarmos esse período crítico na política e na economia será bem maior. Os números não mentem. Ao contrário, podem nos motivar. Segundo dados do IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas, em 2014, foram realizados 1.106.440 casamentos no País, registrando um aumento de 5,4& em relação ao ano anterior. E como já diziam nossos avós, &quem casa, quer casa!& Assim, ganhamos mais de um milhão de novas famílias interessadas em se tornarem nossos clientes. Em contrapartida, se o mercado de casamentos continua sendo um terreno fértil para nossa atividade, também não podemos nos esquecer do número crescente de uniões que não dão certo. Seja por conta de problemas financeiros, seja pela incompatibilidade de gênios, o fato é que em 2014, foram realizados 341.181 divórcios no País, o que também nos conduz a um mercado repleto de clientes que irão precisar de uma nova moradia para viver. Somado a isso temos filhos que crescem e deixam a casa dos pais para estudar em outras cidades, tornando-se potenciais inquilinos de nossos escritórios, executivos que são transferidos e que precisam de moradias temporárias, empresas que ampliam suas instalações, lojas, restaurantes, consultórios... Sempre haverá alguém precisando de um imóvel para os mais diferentes fins. E ao lado dessas pessoas, um corretor, pronto a promover mais uma transação de sucesso. Na nossa profissão, não podemos dar espaço para o desânimo, para a falta de perspectiva. Se os financiamentos estão com juros mais altos, há que se buscar alternativas, como o home equity, e as próprias construtoras, muitas delas facilitando a aquisição. E o que dizer dos descontos? Quem sabe pechinchar, pode obter uma vantagem bem significativa e decidir fechar negócio. As pesquisas do CRECISP, há tempos, mostram redução no valor pedido pelos proprietários, que chega a ultrapassar 30&, em muitos casos. Por esses e outros motivos, a principal condição para que voltemos a enxergar bons ventos em nosso segmento passa pelo resgate da confiança. Com ela, os chefes de família poderão voltar a assumir, com tranquilidade, uma dívida de 30 anos para adquirir suas casas, sem medo de perderem seus empregos e sem a preocupação sobre o que pode acontecer com o País amanhã. Com confiança, teremos o retorno paulatino dos negócios, já que a definição política pode criar um ambiente propício para isso, desde que as medidas sejam reais e positivas. É óbvio que a confiança tem que vir acompanhada do resgate dos empregos, dos juros mais baixos, da oferta de crédito, e de diversos outros fatores que podem impactar na vida de todos. Mas, se cada um deixar de reclamar apenas e trabalhar, já teremos boas condições para, em breve, voltarmos a selar nossos negócios pelo &fio do bigode&, resgatando a credibilidade que, há muito, não se vê por aqui. José Augusto Viana Neto